Você já se perguntou porque alguns gatos são apenas de uma cor e outros completamente manchados?
Você já deve ter notado que alguns gatos possuem coloração bem uniforme ao longo de todo corpo. Sendo eles totalmente pretos, brancos, cinzas, e etc. No entanto alguns possuem manchas brancas em regiões do corpo, outros podem ser de três cores (gato cálico) e ainda há gatos que possuem listras em padrões bem característicos.
Então, como toda essa variação ocorre? Nesse post vamos explicar como se dá a herança genética dessas características e como elas se expressam em listras e em manchas brancas nos gatos bicolores.
Antes de tudo, vale lembrar que a determinação do fenótipo da pelagem dos gatos é uma combinação de vários genes. Os gatos possuem dois pigmentos que dão coloração ao pelo: a eumelanina (escuro - tons entre preto e marrom) e a feomelanina (mais claro - coloração entre laranja e amarelo). Esses pigmentos podem se expressar em cores vívidas ou diluídas (esse efeito é melhor explicado aqui).
E quando o gato é branco? A pelagem branca ocorre quando há ausência de pigmento nos pelos, esse fenômeno pode acontecer por diversos fatores, por exemplo o albinismo (para saber mais sobre o albinismo). Mas nem sempre gatos brancos são albinos, você já ouviu falar dos fatores de pontuação branca (white spotting factor) na pelagem de gatos? (para entender mais sobre os genes que causam a pelagem branca).
Os Gatos Bicolores
Os fatores de pontuação branca, alelo chamado S (spotting) que se encontra no gene KIT, são responsáveis por gerar uma grande variação combinante de manchas brancas nos gatos. Isso porque o alelo S possui expressividade variável, assim ele ocorre em vários graus. Os animais com esse alelo podem apresentar desde pequenas manchas brancas no corpo até mesmo serem totalmente brancos.
Mas como esse gene pode afetar a distribuição do pigmento nos pelos e impedir a uniformidade? Bem, o gene KIT é responsável pela migração, no período embrionário, das células precursoras de pigmentos, os melanoblastos. Assim, durante a gestação dos gatinhos que possuem pelo menos um alelo S, os melanoblastos são distribuídos pelo corpo acumulando mais em algumas regiões e se ausentando em outras. Dessa forma, quando os melanoblastos amadurecerem em melanócitos e iniciam a deposição de grânulos de melanina nos pelos, as regiões onde as células precursoras estavam ausente darão origem a pelos sem melanina. Os gatinhos serão brancos em algumas regiões e pigmentados em outras. As regiões com melanócitos expressarão as cores de acordo com outros genes que o gatinho possuir.
A variação dos gatos bicolor apresenta-se em uma escala crescente de acordo com a expressão do alelo S em dose dupla (genótipo - SS) ou única (genótipo - Ss). Veja a seguir alguns exemplos dessa graduação na expressividade do gene.
Alguns padrões de manchas são bem característicos. Por exemplo: padrão Van, quando o rabo é colorido e a distribuição de pigmento ao longo dos pelos é bandeado (padrão agouti), podem também ter pigmentos na cabeça próximos às orelhas. O resto do corpo é totalmente branco.
Outro exemplo é o padrão “Capa e Máscara”, quando os pelos pigmentados se concentram na região do dorso e na cabeça envolvendo os olhos, ficando semelhante a uma máscara.
O Padrão Agouti
(Ao lado Imagem 12)
Agora você deve estar se perguntando o que é essa distribuição agouti nos pelos que foi citado no padrão van. Até agora tínhamos falado somente da distribuição homogênea da melanina ao longo dos pelos, dessa forma, resultando em um padrão chamado de sólido. No entanto os gatinhos podem ter mais de uma cor em um único fio de pelo. Isso acontece, pois em mamíferos existem genes que atuam regulando a produção de eumelanina ou feomelanina em um período de tempo durante o crescimento do pelo. Em certo momento, esses genes podem cessar a deposição do pigmento nos pelos deixando o fio em parte branco ou ainda intercalar entre tons diferentes. Esse padrão bandeado da cor dos pelos em gatos é determinado por um alelo autossômico dominante A. Logo, gatos com genótipos não-agouti (aa - dois alelos recessivos para essa característica) apresentam pigmentação uniforme ao longo do pelo durante todo seu crescimento, ou seja, o padrão sólido.
Listras! É um padrão de pelagem muito encantador, encontrado nos nossos gatinhos domésticos e também em vários felinos silvestres. Esse é provavelmente o padrão ancestral dos gatos domésticos, pois ele favorece a camuflagem do animal em ambientes selvagens. Todos os gatos possuem o gene para o padrão tigrado, até mesmo aqueles que não têm listras. Isso ocorre, porque os gatos com pelagens sólidas são recessivos para o padrão agouti e possuem pigmento uniforme em toda a extensão do pelo, de modo que as listras ficam “mascaradas”.
Existem três padrões de coloração tigrado: Mackerel, Clássico e Ticked. O padrão Mackerel é provavelmente causada pelo alelo ancestral (T) dessa característica. Dominante em relação aos outros, o alelo T é comumente encontrado em gatos selvagens ou sem raça definida. O padrão Clássico é devido a uma mutação nesse alelo T originando o alelo Tb, que é recessivo, assim, ele precisa estar em dose dupla no genótipo do gato para que o animal expresse esse fenótipo. O padrão Ticked, um terceiro alelo I, pode ser encontrado somente nos gatos abissínios e ele é responsável por dar um aspecto chamuscado à pelagem, apresentando uma faixa mais escura na região central dorsal.
Fontes das Imagens:
Imagem 1: https://viladopet.wordpress.com/page/55/
Imagem 12: Figura retirada do livro Uma pequena introdução à genética de felinos domésticos (PLAZZA, Rubens; KAVALCO, Karine Frehner)
Imagem 13: Figura retirada do livro Uma pequena introdução à genética de felinos domésticos (PLAZZA, Rubens; KAVALCO, Karine Frehner)
Imagem 16: https://osgatos.com.br/gatos/abissinio/
Referências:
Bicolor cat. Wikiwand. Disponível em: <https://www.wikiwand.com/en/Bicolor_cat#/External_links>. Acesso em: 28 de jul. 2019.
Kaelin C. B. et al. Specifying and sustaining pigmentation patterns in domestic and wild cats. Science, 2017 v.337 p. 1536-1541. Disponível em:
< https://science.sciencemag.org/content/337/6101/1536 > . Acesso em: 30 jun.2019
PLAZZA, Rubens; KAVALCO, Karine Frehner. Uma pequena introdução à genética de felinos domésticos. Rio Paranaíba, MG: ARAUCARIA COMUNICAÇÃO E EDITORA, 2015. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Rubens_Pasa/publication/309653509_Uma_pequena_introducao_a_genetica_de_felinos_domesticos/links/581bda8108ae40da2ca9241d/Uma-pequena-introducao-a-genetica-de-felinos-domesticos.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2019.
SANTOS, D. C. Padrões de variabilidade do gene ASIP (Agouti Signaling Protein) em mamíferos. 2007. Dissertação (Mestrado em Biologia Celular e Molecular). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Biociências.
Pelagem "capa e máscara" é a melhor que tem. Faz parecer um herói poderoso.